sábado, 14 de março de 2009

Mundos e fundos


Dirijo com uma mão só
enquanto a outra se apóia na janela aberta
O vento bagunça meu cabelo
Não é um conversível
mas o teto solar cumpre esse papel
Poderia ver as estrelas
mas mantenho os olhos fixos no horizonte ao final da estrada

Estaria com meus óculos escuros
mas já é noite

Naquele bar a cerveja é gelada
Bebi muitas conversas por lá
Hoje não conheço ninguém
então não vou pagar pra entrar

No som toca um intricado bebop
provavelmente Charlie Parker
Sempre acho que é Charlie Parker quando o jazz é intricado

Na mesa dos fundos
tomo um duplo 12 anos
Na mesma mão seguro meu charuto
Lentamente a fumaça vai subindo até se espalhar no teto baixo
Enquanto isso
as pessoas entram
as pessoas riem
as pessoas dançam
as pessoas saem

Não sei pra onde vou
nem se quero chegar lá
O lugar que queria ir já não existe mais

As notas do piano gotejam sobre mim
e me lembram que não tenho casa

O ritmo dos tambores diminui
O ataque aos pratos dá lugar a um arrastado e repetitivo chiado
Não, isso não é bebop

Estou na praia
pelo menos é o que diz a brisa fresca
O chiado do mar nos fundos confirma a tese
Conversamos noite afora
Atiro as bitucas de cigarro nos fundos da piscina vazia

Eu odiava aquela cidade
mas sinto saudades

Naquela noite não rolou nenhum beijo
mas foi tão bonita
Da que rolou não tenho lembrança alguma
Ainda teremos outras lembranças como essa 

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